quinta-feira, 30 de junho de 2011

AAMI Park - Melbourne


No centro da cidade de Melbourne esta localizado o Parque Olímpico, onde havia um estádio de Críquete e em 1956 começou a se expandir com as arenas para as Olimpíadas de 1956, ao longo dos anos mais equipamentos foram adicionados, entre eles a famosa Rod Laver Arena ondo acontece todo ano o Aberto da Austrália de Tênis.


Com o aumento da popularidade do futebol e a criação de um novo time de Rugbi, o governo decidiu investir num estádio que pudesse receber jogos dos dois esportes e eventos internacionais, assim surgiu a ideia do Rectangular Stadium, nome dado inicialmente ao projeto pelo formato "diferente" do campo.
Diferente porque para todo o sul da Austrália "futebol" é na verdade o Aussie Rules ou Futebol Australiano, que é jogado num campo oval e muito maior, e que por esse motivo possui seus próprios estádios.
O Futebol Australiano é muito mais popular que o nosso futebol e Melbourne é a capital do esporte na Austrália, na verdade foi lá que o esporte nasceu e onde os primeiros campeonatos foram disputados, isso é importante para entender porque o estádio tem apenas 30.000 lugares e será a casa de três times de dois esportes diferentes.




Após a construção uma empresa comprou os direitos o estádio mudou de nome para AAMI Park.
O projeto foir ealizado pelo COX Architects, ums dos mais tradicionais escritorios da Asutralia, o arquiteto Philip Cox é um dos pioneiros em arquitetura esportiva do país, é um dos autores da Rod Laver Arena e entre outros projetos seu escritório projetou a maioria dos estádios das Olimpíadas de 2000 em Sydney.




Apesar de esteticamente ser completamente diferente do Skilled Stadium, eh possivel perceber que as tecnicas e simplicidade construtiva sao praticamente as mesmas, estruturas para a arquibancada e uma cobertura em estrutura metalica. Por mais que a cobertura seja rigida e plasticamente mais complexa, ela é totalmente modular, uma repeticao das mesmas pecas e dois tipos de paineis para vedacao, um opaco outro translucido. A cobertura ainda tem fixada milhares de LED's que podem ser programados e criar efeitos e cores diversas a noite, mas o mais interessante é a leveza da estrutura que cumpre seu papel com muita elegância e inteligência, não há um pilar sequer nas arquibancadas e o resultado estético é sensacional, na minha opinião é muito mais bonito que muitos estádios mais badalados, caros e que foram construídos em países com mais tradição no futebol.

Além da excelente localização e proximidade ao transporte público, o estádio possui estratégias comuns na maioria dos projetos que apresentei no blog até agora e em quase todos os que tenho conhecimento, como reservatório de água de chuva, reaproveitamento da água nos banheiros, iluminação de baixa potência e automação para controle do consumo, aproveitamento de ventilação e iluminação natural, materiais reciclados e reaproveitados no próprio canteiro, etc.





O estádio ainda abriga escritório para administração dos clubes, departamento médico, 800 m² de infra-estrutura para condicionamento físico e reabilitação incluindo ginásio, academia e piscina. 24 espaços para locação durante os jogos, 14 lanchonetes e 14 bares, salão para jantar e eventos com capacidade para 1000 pessoas, bar/lanchonete e loja dos times com acesso fora do estádio e capacidade para 30.000 torcedores.

O custo total foi de AU$ 270 milhões, aproximadamente R$ 450 milhões, em tempos de Copa do Mundo no Brasil e estádios de R$ 1 bilhão,  é algo para se pensar.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

#1 Bligh St. - Sydney



O edifício 1 Bligh st. é o primeiro projetado usando 100% tecnologia BIM (Building Information Modeling) em Revit na Austrália e foi projetado pelo escritório australiano Architectus em parceria com o escritório alemão Ingenhoven. É o edifício em Sydney que conseguiu a maior pontuação no Green Building Council atingindo 84 pontos, recebendo 6 estrelas no projeto e no as-built e ainda 5 estrelas no sela NABERS australiano.
Segundo os arquitetos, as três diretrizes que guiaram o projeto foram: a vista da baía, o espaço público e o ambiente de trabalho.
O terreno fica numa esquina e de frente para um calçadão que conecta diretamente com o Circular Quay, um cais que dá a volta na enseada entre o bairro The Rocks (onde a primeira colônia se estabeleceu em Sydney) e a Opera House, um dos principais cartões postais da cidade, ponto de encontro turístico e porto principal onde todos as embarcações de transporte público chegam e conectam com o metrô. Com poucas obstruções, a vista para a baía tem que ser explorada ao máximo, pois será determinante não só na qualidade do espaço, mas principalmente no preço do aluguel e retorno do investimento.


A grande maioria dos edifícios em Sydney, e na Austrália em geral, tem acesso restrito apenas a partir dos elevadores, na verdade em muitos é possível entrar e conhecer o prédio inteiro sem que alguém lhe peça qualquer tipo de identificação, isso permite que o pavimento térreo seja permeável e interaja com a cidade, muito parecido com uma das principais características do modernismo brasileiro. É muito comum o térreo ser ocupado por cafés, bares e lojas, mas principalmente é uma extensão da calçada.


Os andares variam de tamanho, atingindo um máximo de 1.600m² e com 92% de área útil. A planta elíptica permite que 40% da área de escritório se localize a no máximo 4,5m da fachada principal e a distância máxima é de 8m entre a fachada e o átrio central, que permite além da ventilação e iluminação natural, que haja contato visual com outros andares.

O investimento total do empreendimento é de AU$ 270 milhões para 42.700m² de área útil alugável.
80% do PVC que seria utilizado foi substituído por outro material não derivado de petróleo, 90% do aço utilizado tem na composição 50% de material reciclado e 90% do entulho produzido no canteiro foi reaproveitado.
Mais detalhes sobre as estratégias de conforto ambiental e conservação de energia do edifício AQUI e AQUI

terça-feira, 14 de junho de 2011

Edifício Pixel - Melbourne


Dia 6 de julho um engenheiro da Umow Lai, empresa de consultoria de conforto ambiental e conservação de energia, vai ao escritório em que trabalho falar sobre a consultoria feita ao projeto do Edifício Pixel em Melbourne.
Ok, o prédio é meio estranhão, mas tá meio que no "estilo contemporâneo" aqui da Austrália, talvez eu ainda não tenha escrito sobre isso mostrado exemplares do tipo, mas principalmente em Melbourne é impressionante a liberdade formal e a variedade e mistura de materiais que usam. Na minha opinião a Austrália ainda está construindo uma identidade arquitetonica misturando sua cultura com uma forte influência da arquitetura européia (que dominam as publicações) e uma variedade de referências asiáticas que aparecem pontualmente em alguns projetos.


Esse edifício conseguiu 6 estrelas no Green Star com 105 pontos (pontuação máxima de 100 mais 5 por inovação), não consegui apurar, mas nenhum edifício na Austrália conseguiu essa pontuação até hoje.
O projeto é do Studio 505, mas iniciativa foi da construtora Grocon que idealizou o edifício como um protótipo de como devem ser construídos os próximos escritórios na Austrália.

O edifício é o primeiro Carbono Neutro da Austrália, ou seja, o edifício produzirá toda a energia que consome e o seu excedente será colocado na rede. É 100% independente da rede de água e usará 100% de ar fresco (o ar aquecido ou resfriado é liberado depois de circular pelo edifício), terá também um sistema automatizado de ventilação noturna para resfriamento do edifício. Os chillers serão a gás e não elétricos, como em tradicionalmente na Austrália, reduzindo muito o consumo de carbono, o uso de amonia como combustível para refrigeração significa nenhum risco de degradar a camada de ozônio.
Captação de energia solar por paineis de células fotovoltáicas fixos e ajustáveis, e uso de uma nova tecnologia em turbinas eólicas pela primeira vez utilizadas na Austrália.
Foi também utilizada uma mistura de concreto desenvolvida pela Grocon que reduz à metade o uso de carbono através da utilização de agregados reaproveitados.
Segundo a construtora, após exaustivos estudos de 3D o edifício atingiu aproveitamento de 100% de luz natural com controle de ofuscamento apenas com o sombreamento dos brises e telas externas, sem a necessidade de cortinas ou persianas.
Mais detalhes AQUI



Estou bastante curioso para esse palestra, conhecer com mais detalhes o projeto desenvolvido e entender as estratégias utilizadas, até porque os dados são bem otimistas, pra não dizer impressionantes!

domingo, 12 de junho de 2011

Biblioteca em Surry Hills - Sydney



Surry Hills é um dos bairros mais interessantes e charmosos de Sydney, popular por ser residencial de baixa densidade e com arquitetura muito preservada, bem próximo do centro da cidade e principalmente pelos restaurantes e bares que se estendem pela Crown st. É o tipo de vizinhança que atrai artistas, designers e arquitetos, não por acaso muitos escritórios se estabeleceram na região e os bares se tornaram ponto de encontro.
Na Austrália a biblioteca tem função de centro comunitário e além do acervo impresso ou multimídia (e internet grátis) oferecem todos os tipos de cursos e palestras que atraem os moradores, cada bairro tem a sua com um perfil diferente e moldado pelo interesse dos moradores.




Em Surry Hills a biblioteca era muito pequena que não conseguiu acompanhar as mudanças e valorização do bairro, cada vez mais rico culturalmente, em 2004 foi discutida a necessidade de se construir um novo edifício que pudesse abrigar um acervo melhor e servir mais pessoas. Em 2005 o escritório FJMT venceu a concorrência para desenvolver o projeto da nova biblioteca, os moradores foram consultados e definiram as diretrizes que deveriam ser seguidas para o novo projeto, o edifício ficou pronto em 2009 com um custo aproximado de AU$ 16 milhões





Umas das condições seria criar um edifício que servisse de referência em sustentabilidade para outros novos edifícios, algo que deixasse uma marca na cidade. Sem dúvida um assunto que é moda hoje em dia, mas que é compreensivo pelo ponto de vista do poder público, um edifício desse porte é planejado para durar entre 50 e 100 anos e é mais inteligente investir mais dinheiro num projeto mais caro que reduzirá sensivelmente o gasto com manutenção e o consumo de energia já que a prefeitura é quem arcará com essas despesas ao longo de todos esses anos. A população aqui compreende e exige esse tipo de postura do governo.







O programa é distribuído em 4 andares, no térreo e no subsolo estão sala de leitura e acervo, no primeiro andar as salas comunitárias e eventos e no segundo andar a área infantil e creche.
Em parte do terreno foi criada uma pequena praça que destaca o edifício, principalmente por revelar a fachada de vidro com as plantas, a transparência nesse caso tem função de convidar as pessoas ao edifício, por isso o sala de leitura está no térreo e o acervo "escondido" no subsolo, mas com passagem pelo átrio de pé direito triplo onde estão as plantas, uma escada escultural que indica o acesso. Os outros dois andares são mais protegidos do público.



Painéis de célula fotovoltáica produzem energia complementar que pode contribuir em até 6 horas diárias.
A água da chuva é coletada na cobertura e armazenada em um tanque de 62 mil litros, 100% essa é usada (e re-utilizada) nos banheiros e em irrigação.
O ar é coletado em uma abertura no alto do edifício e cruza a fachada envidraçada (sul), uma espécie de "átrium verde" onde está plantada a vegetação que naturalmente filtra o ar, que depois é conduzido no subsolo onde passa por um labirinto de concreto que funciona como um radiador retirando o calor do ar, que resfriado cruza todos os andares do edifício, esse sistema reduz em 50% o uso de ar-condicionado.
Os brises na fachada principal possuem sensores que "seguem" o Sol protegendo a fachada da radiação direta e permitindo a iluminação natural.