domingo, 1 de julho de 2012

Pequena casa em North Carlton - VIC

Simpática reforma do escritório Herbert Mason em Melbourne. As casas nas cidades aqui em geral são bastante estreitas e sem recúos, muitas vezes ainda tem complicações como processos de aprovação no departamento de preservação histórica, etc.
Mas o que me chamou a atenção nessa casa é que ela é térrea, e apesar de não mensionarem no site, imagino que no fundo, atrás do armário da cozinha, fica o banheiro e dormitório, me lembrou alguns apartamentos/kitchenetes de São Paulo.
Me lembrou também aquelas casas japonesas que vemos naqueles famosos livros "small houses", onde o custo de um terreno no centro da cidade, as suas complicações para aprovação, os custos de construção e as vantagens de se morar próximo ao trablho/vida social justificam investir tanto na reforma de um espaço pequeno.
Nesse caso eu acho que o arquiteto foi muito bem sucedido a começar por valorizando o pé direito com o forro de gesso acompanhando o caimento do telhado, sendo bastante econômico na quantidade de elementos e na simplicidade dos materiais e ainda assim dando à pequena casa identidade e um ar bastante elegante.
Fotos Peter Bennetts

Seaview House - Barrow Heads VIC

Na época do pós-guerra (após 1950), muitas regiões de praia da Austrália começaram a ser ocupadas com casas de veraneio, em geral casas feitas de estrutura e revestimento de madeira, que eles chamam de "shacks" (cabanas), uma construção com aparência provisória, mas que em muitos casos já "comemoraram" mais de cinquenta anos de existência. Hoje muitos desses shacks dão lugar a casas com estrutura e materiais mais modernos, mas em muitos lugares esse estilo ainda resiste
Neste caso os clientes desejavam substituír a já deteriorada casa existente por outra de veraneio e que servisse futuramente como residência fixa em outro momento de suas vidas. Sua vontade era que a nova acompanhasse a arquitetura contemporânea dos novos vizinhos, mas que mantivesse a essência dos tradicionais "shacks" australianos.
A casa projetada pelo escritório Jackson Clement Burrows revisita a simplicidade dos "shacks" utilizado os mesmos materiais externamente, a planta foi dividida em três blocos conectados por uma cobertura de vidro formando uma espécie de corredor, hora fechado e hora servindo de abrigo para um deck. Esse "corredor" acompanha o pavilhão principal da casa, que possui fachada voltada para o rio (sul) e para o jardim central (norte).

O interior tem ar minimalista, explorando principalmente revestimentos de madeira.
O pavilhão que dá vista à rua faz refereência aos tradicionais galpões rurais onde se guardava lã, revestido externamente com telhas translúcidas e com sua estrutura aparente internamente, criando um interessante contraste entre as telhas iluminadas e a madeira

O pavilhão principal compõe a cozinha, sala de refeição e estar, no fundo o quarto de hóspedes e oposto a ele está o terceiro pavilhão que abriga a suíte principal.



sexta-feira, 23 de março de 2012

Ormiston Activity Centre - Nova Zelândia

 
E se ao invés de proibir a prefeitura não constrói um lugar adequado para se andar de skate?
Esse projeto do escritório neo-zelandês ArchOffice em Auckland é um exemplo de equipamento público simples, barato e de bom gosto que cria um espaço de lazer bastante escasso nas cidades, na verdade problemático, pois muita gente não gosta de skatistas andando em praças ou fazendo manobras em bancos ou muretas, mas se não há outra alternativa, onde praticar o esporte?
Em São Paulo eu sei da rua onde fica uma praça em que os moradores literalmente cortaram faixas no asfalto liso e perfeito para se andar de skate e colocaram paralelepípedos para ninguém andar... Ora, como diria "nosso amigo" Bjarne Ingels "Yes is more!" Ao invés de excluir, porque não criar espaços adequados? Não há lojas de skate? Uma indústria que gera empregos? O skate (patinetes, patins e afins...) também não é uma alternativa de transporte limpa e que complementa o uso de outros meios de transporte públicos? Então porque não incentivar o seu uso com lugares adequados e seguros?
Praças devem ser pontos de encontro, e se oferecem a possibilidade de atividades ou praticas de esporte ou cultura são equipamentos que ajudam a criar um melhor senso de cidadania e de comunidade.  Esse bairro de Auckland ainda é novo, mas há a projeção de uma população de 40.000 pessoas até 2020, por isso a prefeitura já planeja o desenvolvimento da região, que hoje é pouco servida por transporte público, o que significa que muita gente que mora lá passará a maior parte de tempo no próprio bairro.
O edifício de 194m² possui espaço para aulas, atividades e encontros comunitários para 80 pessoas, um pequeno escritório de apoio com copa/cozinha e banheiro público.
A construção não foge do convencional e utiliza materiais de manutenção simples e duráveis, como concreto e blocos de concreto aparente e estrutura metálica.
O contraste entre o concreto duro e pesado e a estrutura metálica leve e colorida é o que torna um potencial caixote num edifício bastante interessante.



Fotos: Simon Devitt

sexta-feira, 16 de março de 2012

Tyree Energy Technologies Building UNSW - Sydney

O Tyree Energy Technologies (em homenagem ao Sir William Tyree, ex-aluno que doou e ajudou a arrecadar crédito para sua construção) é o novo edifício na Universidade de New South Wales para o desenvolvimento de pesquisas na área de energia, como células fotovoltaicas e combustíveis limpos. Através de um concurso o escritório FJMT foi escolhido para desenvolver o projeto. 

O programa exigia um edifício funcional e flexível, para receber administração, salas de aula, laboratórios e oficinas de pesquisa, áreas de convívios e cafés num total de 15.000m² de área, além de ter de atingir as 6 estralas no Green Building Council.


 

 
Para atingir o nível de 6 estrelas o edifício utilizou concreto "fly ash" (não sei a tradução em português, mas fly ash é um resíduo muito poluente da combustão do carvão que hoje em dia é retido ao invés de ser jogado na atmosfera), sistema de trigeração de energia, uso de iluminação natural e sombreamento das áreas envidraçadas, grande área no telhado para uso de células fotovoltaicas (na verdade muitos dos sistemas serão desenvolvidos e testados pela própria universidade), captação de água de chuva e sistema de reúso, uso misto de ventilação natural e ar condicionado (incluindo labirinto térmico no subsolo para pré-tratamento, entre outras estratégias.



Dividir o edifício em duas partes tem sido uma forma comum em muitos projetos de criar um átrio central que além de receber iluminação natural indireta (através de aberturas no telhado) e em alguns casos usar essa área para ventilação, organiza a circulação e diferentes usos e setores, além de criar áreas de convívio.
 
Uma coisa interessante de notar é a quantidade de tratamento acústico que existe no átrio, por ser uma faculdade é fundamental reduzir o nível de ruído de fundo num área de circulação e convívio, isso é previsto por norma e, digamos, o edifício não receberia a licença de funcionamento sem isso. Num projeto em que trabalhei num edifício de pesquisas semelhante a esse, era necessário calcular o fluxo de pessoas nos corredores e isso definia sua largura e das escadas/rampas.
 

O projeto de iluminação é da Arup (mais detalhes aqui) e segundo eles o maior desafio foi atingir o nível de luminância correto para os diversos e diferentes usos mantendo qualidade e economia de energia.
 
Crédito das fotos para minha colega de trabalho Emma Townsend.

terça-feira, 13 de março de 2012

MCA Museum of Contemporary Arts - Sydney

Está praticamente pronto o anexo ao Museu de Arte Contemporânea de Sydney, um projeto bastante polêmico entre os arquitetos, ninguém sabe ao certo o que acha dele... Na verdade a discussão toda é sobre a "agressividade" do edifício em relação ao Museu existente e a sua relação com o entorno.
O projeto é uma espécie de viagem cubista do arquiteto Sam Marshall que venceu o concurso, o edifício é uma composição de formas retangulares de tamanhos e materiais diferentes que (vou falar que nem "revista projeto", ok?) negam o entorno mas dialoga com o edifício antigo através da... bom, não sei. E acho que é isso que tem incomodado um pouco os arquitetos em geral, e desde que foi anunciado o projeto como vencedor. O edifício é bem legal e interessante, se tivesse sido construído em Melbourne ninguém ia nem reparar, mas em Sydney (que tem um perfil um pouco mais careta) ainda gera um pouco de polêmica entre nós, vamos ver quando for oficialmente aberto.
O Museu fica no Circular Quay, na margem oposta à Opera House, próximo ao terminal dos navios de cruzeiro, será sem dúvida um novo cartão postal.
A construção começou em agosto de 2010 e eu comecei a trabalhar na Hassell, que fica duas quadras atrás, em outubro no mesmo ano, dá pra dizer que acompanhei a obra diariamente desde o início, inclusive com uma visita guiada em setembro de 2011 (vou colocar umas fotos disso depois). Gostei bastante do projeto, a viagem cubista continua por dentro com um forro de gesso dividido em cubos de todos os tamanhos e níveis diferentes com iluminação embutida... dava pra ver muito da estrutura ainda exposta no formato dos cubos e sem placas de gesso, tudo irregular, o gesseiro deve estar atrás do desgraçado que fez o projeto até agora, não deve ter sido fácil montar aquilo! O prédio tem poucas aberturas, que quando acontecem são estratégicas para a paisagem externa, funcionará como um descanso para quem visita o museu, uma das intenções é atrair turistas, portanto mesmo dentro do museu ele tem que lembrar que está próximo à Harbour Bridge ou da Opera House.
Uma das coisas que atraiam a nossa curiosidade eram os painéis GRC usados na fachada, a gente acompanhou a chegada dos painéis prontos e sua colocação, na época comentaram que o projeto teria os maiores painéis do mundo, mas nunca mais ouvi nada a respeito.

Achei impressionante a qualidade do serviço executado e a organização com que tudo foi feito, ainda mais se tratando de um dos lugares mais visitados de Sydney e que recebe eventos de rua diariamente, o dia a dia de quem frequenta, trabalha ou depende comercialmente da região não foi afetado.
Fachada de trás do novo edifício que cobre o Museu antigo, essa fachada eu achei bastante pesada, por mais legal que seja o GRC fica muito chapado, acho que poderia ser mais fragmentada e sutil a transição entre os edifícios.
Acima uma perspectiva do projeto para o concurso.
Abaixo uma foto do Museu originalmente.
Um amigo meu comentou "que pena, não tirei uma foto de quando o prédio era legal". Acho um pouco de exagero também, ainda mais se tratando de um Museu com a proposta de apresentar arte contemporânea, concordo que a relação entre os edifícios é um pouco agressiva demais, mas cada vez que passo na frente da parte nova e um novo detalhe é revelado vou me acostumando com a ideia e acho o projeto mais interessante.
O detalhe interessante de sustentabilidade é que foram construídas tubulações para aproveitar a água fria da baía no sistema de ar condicionado do edifício.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

One40Willian - Perth

Projeto da Hassell,escritório em que trabalho que ficou pronto em Perth na West Australia.
São 36.000m² de para escritórios e 6.000m² de lojas e praça de alimentação, o edifício foi construído sobre uma estação de metrô e o contexto da implantação é de edifícios históricos e (obviamente) tombados numa rua de comércio bastante tradicional da cidade.
Não sei se vocês se impressionam com a escala desses projetos, mas aqui na Austrália são tantos interesses particulares, públicos, urbanos, arquitetônicos e construtivos desde os primeiros estudos de viabilidade, masterplan, aprovação do projeto em N instituições além da prefeitura... um empreendimento desses demora anos para chegar no projeto executivo, é uma verdadeira missão!
Mais detalhes AQUI

Drew House - Seventeen Seventy

Descobri o escritório Anthill Constructions por acaso, fazendo pesquisa de materiais para um projeto em que estou participando, no fim das contas não tem nada a ver com que eu procurava, mas gostei demais dos projetos que eu vi!
Gosto muito de estudar técnicas construtivas, detalhamentos e acho que é preciso ter muito talento para ser criativo usando materiais técnicas e materiais industrializados, essa casa foi praticamente toda construída em Brisbane (próximo aos fornecedores e serviços) e numa e montada no terreno próximo a Grande Barreia de Corais a 500km de distância.
A casa foi projetada para a artista  fotográfica australiana Marian Drew que sempre teve como hábito viajar com a família e acampar próxima a área de Seventeen Seventy (nordeste de Queensland). O conceito principal da casa foi criar uma sensação de "camping de luxo", mantendo o máximo de contato com o entorno com o conforto de uma residência de veraneio.

A casa é organizada em três blocos, dois de dormitórios (separando as áreas íntimas) e um central de convívio conectados por um deck coberto. Dessa forma, a implantação favorece a dinâmica da casa em relacionar áreas internas e externas.
A foto no banheiro é um dos trabalhos de Marian


 Montagem dos pavilhões, dividir a casa em partes menores sem dúvida foi uma estratégia para permitir seu transporte até terreno.

 A cobertura do deck é feita por duas estrutura idênticas de madeira conectadas por uma telha metálica auto-portante. Outra vantagem da casa ser construída fora do canteiro é minimizar ainda mais a agressão ao entorno.
  

  A casa ainda usa aquecedor de água solar, painéis fotovoltáicos e captação de água de chuva.
Gosto bastante desse detalhe abaixo, da estrutura por onde corre a janela e se estende para fora da casa, lembra muito o trabalho do Glenn Murcutt, aliás, residências, materiais pré-fabricados, sustentabilidade... Acho que já demorou demais para eu escrever um post sobre ele.