quinta-feira, 31 de março de 2011

ANZ Centre & Myer Office Melbourne


James Grose e Ken Mahr

Semana passada fui num debate que a revista IN Design realizou com arquitetos diretores de dois dos principais escritórios de arquitetura aqui da Austrália, James Grose do BVN e Ken Mahr do Hassell, com a intenção de apresentar dois projetos vizinhos em Melbourne numa área onde recentemente realizaram uma espécia de operação urbanda chamada Docklands.

ANZ BAnk

Entre outros prêmios, o projeto ganhou como melhor projeto de arquitetura de interiores no World Architecture Festival Awards em 2010

Ken apresentou o projeto para o ANZ Bank, que foi premiado Gold Medalist 2010 pelo RAIA (Royal Institute of Architects of Australia), e falou sobre a importancia de se criar edifícios permeáveis que se integram à cidade, com áreas comuns para os empregados, contato com a área externa e iluminação natural e da complexidade de se projetar um grande edifício corporativo com as limitações ubanisticas, sociais, de segurança e as questões ambientais. A apresentação parecia bastante resolvida, com croquis q não me pareciam ter sido feitos antes do desenvolvimento de muitas etapas do projeto, mas que explicavam claramente os objetivos e as relações propostas.
O projeto utiliza sistema de trigeração de energia e ainda capta energia através de células fotovoltáicas turbinas de vento, essa última mais como uma questão experimental do que de viabilidade. Toda água de uso interno é captada ou reutilizada. As fachadas são todas em vidro duplo como TODOS os prédios por aqui... o conceito é isolar o ambiente interno e aquecer ou resfriar conforme a época do ano com o mínimo de perda/ganho térmico. Por tudo isso recebeu selo verde 6 estrelas e é considerado um dos edifícios mais “sustentáveis” da Austrália.

A idéia original da fachada era que fosse toda branca e fosse elegante "como uma caixa de Chanel N°5"

Interior do Myer

James Grose apresentou o projeto para a Myer uma espécie de Mappin aqui da Austrália, e desenvolveu principalmente sobre a relação entre a intenção do arquiteto e a espectativa do cliente em relação ao projeto, mostrou uma série de estudos e todo o processo entre as diversas propostas desenvolvidas. Era nítido que ele não estava satisfeito com o resultado final, mas mesmo assim foi muito interessante ver e ouvir como as idéias eram aceitas, recusadas, negociadas e até cortadas na hora da execução, como no caso do vidro que seria usado na fachada, ele receberia um tratamento para ficar branco sob a luz do Sol, mas para cortar gastos foi substituído por outro, e assim acabou com o efeito de “cubo branco” que era o conceito original. O interessante na história era como o cliente, bastante conservador, esperava um projeto com uma “identificação à marca” tão literal que ficaria contente se tivesse a forma de uma letra “M”.
A todo instante James fazia piadas ou comentários comparando seu prédio ao ANZ, como quando criticava uma foto da fachada dizendo “mas olha lá como a fachada ficou ótima, mostra no reflexo um grande edifício de verdade”. Estava claro que ele estava incomodado de comparar seu projeto “mais ou menos” com um dos prédios mais premiados em 2010, sendo que um dos principais projetos da BVN, o NAB que já foi o mais premiado alguns anos antes, fica praticamente no mesmo quarteirão que os apresentados.

Ambiente agradável, gente muito simpática e cervejinha na faixa

O debate ainda seguiu com perguntas da platéia e mais alfinetadas de James em Ken, principalmente se referindo ao projeto do Barangaroo, um mega projeto polêmico que será tema de um post qualquer dia desses. Deu pra sacar que a concorrência alí é acirrada, a única coisa que concordaram durante o debate é que a maneira como os difícios são avaliados e recebem as pontuações para receber o selo verde é falho e fica ultrapassada a cada ano que passa, mas que curiosamente muitos clientes tem interesse de desenvolver projetos com melhor aproveitamento de energia e água independente da certificação.


quarta-feira, 23 de março de 2011

Eureka Carpark - Melbourne

Esse vai pro Careca que anda meio impaciente...



A sinalização desse estacionamento no Edifício Eureka em Melbourne foi feita como aquelas propagandas de trás do gol dos estádios de futebol, a graça é que as imagens só fazem sentido quando se está no ângulo certo, do contrário são faixas coloridas abstratas.




Os textos foram marcados com projetores e depois pintados, sem muito segredo, só um pouco de criatividade.
Eu achei duas referências de autores do trabalho, uma amiga do trabalho me disse que quem fez foi o designer Axel Peemöler, mas achei na internet outra referência para o Emesrystudio.



Fotos cuidadosamente selecionadas no site do meu grande colega Axel!

sábado, 19 de março de 2011

Letterbox House - Victoria



Ah, nada como ter um cliente que tope nossas viagens, né? Que tal ter como ponto de partida da casa seu primeiro elemento em contato com a rua: A caixa de correio.

A Letterbox House fica no estado de Victoria, próxima à praia de Blairgowrie e foi projetada pelo escritório de Melbourne McBride Charles Ryan, que tradicionalmente desenvolve projetos partindo de elementos e materiais simples que se transformam em formas extremamente arrojadas.


Nesta casa o ponto de partida é a caixa de correio que se estende e se amplia no resto do terreno como um funil invertido, o volume criado começa baixo e aumenta em altura para abrigar um andar superior, olhando pela lateral percebe-se claramente essa mudança de escala.
A fachada voltada para a parte interna do terreno possui forma esculpida nesse volume conectando o revestimento das paredes com o do deck, como se fosse uma onda quebrando e se abre para o quintal. A outra longa fachada é mais sóbria, reta em feita em ripado de madeira, chama menos a atenção à area dos quartos que requer mais privacidade. Esse contra-ponto nos dá a impressão de uma forma ortogonal original que foi descascada.

Plantas

Cortes

Vista da Rua

A casa foi selecionada para o World Architectural Festival de 2010 e recebeu o Residential Architectural Award no Melbourne Design Awards de 2010.


O painel externo de madeira é fixado por uma estrutura de madeira, aparente pelo lado interno

O interior é mais "comportado", mas ainda assim mantém  relação com a fachada dando a impressão que a casa foi esculpida

O alinhamento da madeira no piso é o mesmo nos painéis da fachada, reforçando a impressão de que é o mesmo elemento. 

Todas as fotos “gentilmente” retiradas do site do arquiteto

terça-feira, 15 de março de 2011

Skilled Park Gold Coast

O Skilled Park é o estádio do Titans, time de Rugbi League da Gold Coast formado em 2004.
Umas das condições para participar da liga nacional em 2007 era possuir um estádio seguindo os padrões do campeonato. Por ser um time novo, o projeto deveria considerar o melhor custo benefício e ainda contaria com a ajuda da prefeitura que investiria a maior parte do dinheiro visando qualificar a região com uma Arena que pudesse abrigar eventos esportivos e shows.
A Gold Coast é uma cidade relativamente pequena, 505.000 habitantes, mas é sexta maior da Austrália, e uma das que mais cresce economicamente, principalmente impulsionada pelo turismo, mas ainda não possuia um estádio de primeira linha.

A capacidade do estádio é ótima, 27.000 lugares, se considerarmos o tamanho da cidade e que o time ainda não completou dez anos de existência. Mas o que chama a atenção no projeto realizado pelo escritório HOK Sport Architecture, atual Populous, é a simplicidade construtiva, todos os elementos são pré-fabricados e industrializados, apenas montados no local, isso é fundamental aqui na Austrália, pois a mão-de-obra é muito cara e consequentemente quanto mais curto o tempo de execução, mais barata a obra. Por conta disso gasta-se bastante tempo no planejamento e desenvolvimento do projeto, as soluções corretas e o máximo de detalhamento são decisivos no custo final da execução.


Simplicidade construtiva
Entrada por setores no nível do estacionamento

Dois pilares metálicos se poiam na mesma base, um deles forma um arco e o outro é o apoio principal de uma viga que faz o travamento entre as duas peças e suporta a arquibancada pré-fabricada em concreto. A lona tensionada fixada na estrutura metálica dá a forma do estádio, o material chama-se PTFE e proteje as arquibancadas da chuva e do sol (o fabricante garante até 73% de proteção térmica), e é translúcido, permitindo ao estádio “acender” a noite quando os holofótes são ligados e ganhar monumentalidade.

Toda infra-estrutura é aparente e a área entre a arquibancada e a lona é a circulação, serviços e toda a área de bar, lanchonete e lojas do time. Isso é comum em todos os estádios, mas diferente é o fato de toda essa área ser térrea, o que facilita o acesso e saída dos torcedores além da economia de material e tempo de execução.
Esse detalhe também foi pensado para tornar o estádio totalmente permeável para o caso de receber algum evento maior e que utilize a área do estacionamento.


A torcida do Titans faz a festa no animadíssimo show do intervalo!
A visão do campo é excelente, em compensação o jogo...

A única área que se destaca na estrutura é a fachada oeste onde estão a área administrativa e de camarotes do estádio, os escritórios possuem uma fachada em alumínio perfurado para filtrar a luz solar e amenizar a carga térmica, não consegui maiores informações, mas com um terreno desse tamanho e sem vizinhos é estranho escolherem justamente a pior fachada em termos de insolação para abrigar esse tipo de uso.

A iluminação foi pensada de forma a minimizar o vazamento de luz (como em estádios com torres mais altas que o anel das arquibancadas) para não haja incômodo na vizinhança predominantemente residencial. Toda água utilizada em irrigação, banheiros e limpeza é captada de chuva.

Mesmo com acesso para carros, 80% do público chega ao local utilizando transporte público.
Com média de público de 20.000 pessoas o estádio tornou-se também a “casa” do recém criado time de futebol Gold Coast United.


Área de circulação sob arquibancada
Acesso de pedestre ao estádio

A obra ficou pronta em 2008 e seu custo total foi de 168 milhões de dólares australianos, desse valor 100 milhões é investimento da prefeitura com a intenção de valorizar e atrair investimentos comerciais na região de Robina, que é uma das mais distante dos centros, mas com muito potencial residencial.


A primeira foto é do site do arquiteto e as outras são minhas.

terça-feira, 8 de março de 2011

YHA Sydney



O edifício é bastante simples, mas lugar onde está contruído nem tanto.

O hotel/albergue da YHA fica no bairro chamado “The Rocks” em Sydney, um dos lugares mais turísticos da cidade e famoso pelos excelentes restaurantes. Foi ali que os ingleses se estabeleceram e construíram as primeiras edificações quando chegaram em 1788 e fundaram a colônia que um dia se tornaria a Austrália.
A região é muito visitada porque além de ser totalmente tombada e grande parte restaurada fica estratégicamente entre a Harbour Bridge e a Opera House.

O projeto é do escritório Tzannes Associates e foi realizado sobre um sítio arqueológico, isso determinou a implantação do edifício, que está apoiado por pilares de estrutura metálica e tornam livre para acesso o que sobrou de algumas das primeiras construções australianas. As escavações começaram em 1994 e as pesquisas são ativas, diariamente são encontrados e catalogados muitos artefatos, por isso fez parte do projeto um centro de educação arqueológica, “The Big Dig”.


O edifício é dividido em dois volumes principais conectados por passarelas sobre uma passagem de pedestres existente.Os 106 quartos são organizados ao redor de um átrio central onde está a circulação e que permite ventilação e iluminação natural, as aberturas principais de todos os quartos estão voltadas para as ruas.


Área exposta do sítio arqueológico, centro de exposição à esquerda.



Passagem pública e a ligação entre os dois blocos do edifício


Esquema de implantação



Estrutura que suspende o edifício e torna livre a área de pesquisa



Vista do pátio interno


Com pouco espaço pra um canteiro de obras e até mesmo para fundações, o sistema construtivo usa estrutura metálica e materiais pré-fabricados apenas “montados” no local.
Completam a fachada telas de metal que simulam as fachadas das construções que existiam no local, detalhe que no inicio eu considerei bastante ingênuo, mas que pelo caráter informativo do local, principalmente para turistas acabou me convencendo da utilidade de alguma forma.



Fachada principal com a tela que faz referência às casas antigas

Além da restrição do terreno em si, há as restrições da prefeitura por ser um bairro tombado, que provavelmente determinou a escolha do uso de painel cerâmico nas fachadas como referência aos antigos tijolos e sem dúvida na regularidade tanto de tamanho como na composição das aberturas nos próximos posts vocês vão perceber que os arquitetos aqui tem siricutico pra dar uma entortadinha ou quebrar padrões regulares.

Visto à distância o albergue não se destaca apenas pelo uso de materiais contemporâneos, 
mas também por ser um volume uniforme e mais alto que os vizinhos, provavelmente houve alguma negociação com a prefeitura para se manter 3 pavimentos mesmo saindo do gabarito de altura dos vizinhos. A passagem de pedestres entre as casas antigas preservada permite, além da permeabilidade, que quem passe por lá tome conhecimento de um dos maiores sítios arqueológicos urbanos do hemisfério sul e aprenda a história da cidade.


Edifícios vizinhos tombados


A área total da construída é de 4714m², e conforme informações que pesquisei o custo total da obra foi de 28 milhões de dólares australianos (+ - 42 milhões de reais) e ficou completa em 2009.


O projeto recebeu três prêmios em 2010:

- Property Council of Australia - Innovation & Excelence Awards, Highly Commended Heritage & Adaptive Uses Award.
- Urban Taskforce Award, Development Excellence Award for Tourism Development
- National Trust of Australia (NSW) - Energy Australia Heritage Award - Highly Commended

As fotos são minhas e o esquema construtivo eu peguei no site do arquiteto.

Bem Vindos


Olá pessoal, bem vindos ao meu Blog!

Demorou mais que parto de trigêmeos, mas consegui começar!
Faz tempo que quero escrever sobre minha experiência na Austrália e dividir um pouco o que tenho visto e aprendido por aqui.
A idéia é mostrar projetos interessantes daqui, sejam eles novos, antigos, construídos ou mesmo coisas que não deram certo com a intenção de apresentar novas referencias, conceitos, materiais, produtos e qualquer idéia que possa acrescentar algo, quem sabe ir um pouco além e poder explorar outros assuntos e relacioná-los com arquitetura de alguma forma.
Espero também que vocês comentem e principalmente sugiram assuntos ou coisas que tenham ouvido falar daqui que eu possa ir atrás.

Escrevo principalmente para o Sr. Walter Martinelli, que é o engenheiro que mais gosta de novidades arquitetônicas que eu conheço e esta sempre curioso pra saber o que tem por esses lados, mas não posso deixar de citar também o débito que tenho com meu grande amigo Augusto Marques, que com sua sutileza budista me cobra sempre as famosas "fotos das coisas que rolam por aí". Vai ter que ler hein Arbusto!

É isso aí, valeu!